quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aos ativistas da Cultura em Campos dos Goytacazes

Há pouco mais de duas horas, Vítor Menezes informou no blog Urgente!: "estão, neste momento, instalando as estátuas da Abolição na Pracinha do Canhão, na Avenida Alberto Torres, no centro de Campos". O objetivo do blogueiro foi lançar um desafio. Após dizer que "todos os 978 carros de reportagem do urgente! estão quebrados, assim como as 4217 máquinas fotográficas", perguntou: "Quem será o leitor que poderá ir até o local, fazer a imagem e mandar para colaboraurgente@gmail.com?"
O responsável por este blog tem um carro à sua disposição, mas está sem câmera fotográfica. Interrompendo suas atividades, propõe que hoje, amanhã ou depois aquele monumento horrendo construído no lugar da antiga Praça do Canhão seja cercado por pessoas que, munidas de marretas, ameacem quebrar (ou comecem mesmo a destruir) aquilo tudo, exceto as esculturas da abolição e a única peça que deveria ficar naquele local –o Canhão.
A idéia pode parecer brincadeira. Mas faz-se necessário forçar o prefeito Alexandre Mocaiber a entender que existem Conselhos criados para deliberar sobre assuntos como esse ora em questão.
No período da campanha eleitoral de Mocaiber para prefeito, quando ele se dispôs a tratar de Cultura numa reunião com artistas de Campos, naõ fez muito mais que repetir algo que já vinha falando nos programas de propaganda política veiculados em rádio e TV –que, mesmo após ingressar na vida pública, continuava a valorizar a família e a ir à igreja. Sobre a área que deveria abordar, disse na ocasião que se sentia em casa em meio aos ali presentes, porque, quando universitário de Medicina, escrevia sobre cinema no jornalzinho da faculdade.
Depois desse dia, não era para ninguém esperar muito do então prefeito em exercício, caso se elegesse para o cargo que pleiteava –o que de fato ocorreu. Entretanto, se os artistas presentes a tal reunião entendiam à época que ele era o melhor nome para ocupar a prefeitura de Campos, não devem agora se envergonhar pelo equívoco que cometeram, mas, em relação ao caso aqui em apreço, fazer valer a idéia de que monumentos históricos não podem ser manipulados como objetos de uso pessoal.
A decisão dos que participaram da reunião do Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal (Coppam) na última terça-feira, encontro que contou também com a presença de representantes de outros Conselhos, foi a de “congelar” a situação em curso –não recolocar as esculturas no local do qual foram removidas e nem em nenhum outro lugar; não levar à frente a remodelação da Praça do Canhão.
O prefeito vem ignorando solenemente tal deliberação, pois ontem havia pessoas trabalhando na Praça, e hoje, apesar de toda essa chuva que cai sobre Campos, em vez de tomar providências para resolver o estado de calamidade que já deveria ter decretado para o município, ele permitiu que homens fossem para a Fatia de Queijo instalar a cena escultórica da abolição da escravatura no local.
Há quem entenda que manter as peças que compõem tal cena no Palácio da Cultura descaracteriza o já bastante desfigurado projeto original do prédio. Que as estátuas fiquem então no Museu Olavo Cardoso, por exemplo. Mas não expostas num local aberto, sujeitas à depredação. Nem na (ex-)Praça do Canhão. Que, como diz o próprio nome é –ou deveria ser– do CANHÃO.

2 comentários:

George Gomes Coutinho disse...

Importante tomada de posição Gustavo!

Todavia não se engane... A constante de atropelar os conselhos é praxe no Brasil como um todo.

A questão é a resposta, do próprio conselho, com igual energia com que foi desancado.

Gustavo Landim Soffiati disse...

Não me engano quanto a isso, George. Tanto que penso ser importante que o Conselho não só responda com igual energia à atitude do governo ora em questão, mas também que marque posição, mostre à prefeita eleita que tem força. Do contrário, penso que ela, que já tem um histórico de atitudes autoritárias, vai se sentir bem mais à vontade para agir mais ou menos como o atual prefeito.