quinta-feira, 13 de maio de 2010

"Bambas da Planície" no Trianon: ponto alto da "Semana da Abolição"

De todo o calendário da Fundação Municipal Zumbi dos Palmares para a Semana da Abolição [da escravatura], o evento de hoje, o show de lançamento do CD Bambas da Planície, a partir das 20 horas no Teatro Municipal Trianon, é, sem dúvida, o ponto alto da programação, marcada por exibições de filmes, premiação para os melhores do carnaval campista, roda de samba e apresentações de hip hop, balé e maculelê. E talvez por isso tenha sido agendado justamente para o Dia da abolição, a despeito da desconstrução do mito criado com a escolha dessa data como símbolo de libertação dos negros, que, para dizer o mínimo, após o 13 de maio de 1888, não viram grandes mudanças em suas vidas –ao contrário: em certos casos, foram submetidos a situações bem similares às do auge do cativeiro no Brasil colônia.

Foto: Divulgação

Resultado de uma parceria entre a Fundação e os produtores culturais Lene Moraes e Wellington Cordeiro, o registro ora em questão é um apanhado da obra de Jorge da Paz Almeida, Manoel Tancredo e Geraldo Gamboa (nesta ordem, da esquerda para a direita, na imagem acima, usada na capa do CD).
Com quinze faixas (cinco composições de cada bamba), o grande mérito do disco está em garantir perenidade ao que foi criado pelo trio. Já o do show, em reverenciar os ainda vivos Manoel Tancredo e Geraldo Gamboa (Jorge da Paz faleceu em maio de 2009), ponto em que vai na contramão do Tributo a Eli Miranda –homenagem póstuma ocorrida na semana passada no Samba de Lene Moraes, no bar Arpex, na quinta-feira, e, formalmente, por assim dizer, sob o comando de Jardel do Cavaco, no Trianon, na sexta.
Não que Eli não merecesse tal preito ou que os responsáveis pela noite não a tenham feito de forma sincera e não se dispusessem a isso antes da morte desse grande intérprete de samba. Mas, sem intenção de acusar de pouco-caso e ou de oportunismo os participantes da festa para Miranda, ficou a pergunta: por que ele não foi tão valorizado assim quando vivo?

Foto: Gustavo Landim SoffiatiGamboa entre Rogério (e), filho de Eli, e Jardel (d) no Trianon na sexta passada

Trata-se de uma questão cuja resposta o autor destas linhas prefere colher abrindo o assunto a debate com os que se dispuserem a isso, mas talvez pudesse até se arriscar a responder. Afinal, mesmo que parcos e imprecisos, subsídios e hipóteses não lhe faltam. Apenas a título de exemplo, vale dizer que Geraldo Gamboa, de 81 anos, só nos últimos tempos vem merecendo maior reconhecimento. No ano passado, num show de Lene Moraes na Praça São Salvador, durante os festejos do padroeiro de Campos, convidado a subir no palco para cantar, ele declarou que nunca havia participado de nenhuma apresentação naquele lugar e por conta de tal comemoração.
Polêmicas à parte, ressalte-se que, além de homenagear Geraldo, Jorge e Manoel, o CD e o espetáculo Bambas da Planície (neste caso, como o Tributo a Eli Miranda) servem para mostrar que o samba no município não se limita ao trio, vicejando entre nascidos aqui e forasteiros adotados por esta terra, como Daniela Passos, Jardel do Cavaco, Helena Rangel, Lene Moraes, Marquinhos Sá e Saboya.
Por uma questão de honestidade intelectual, o autor registra um agradecimento a Ely Araújo de Sousa Rangel, por tê-lo inspirado a abrir o debate sobre a homenagem póstuma ao seu quase homônino.

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