domingo, 13 de junho de 2010

impressões

A marca do Zorro
Fotos: Divulgação

Em cartaz no Teatro Municipal Trianon desde sexta-feira e com última apresentação marcada para hoje, às 18 horas, o espetáculo A marca do Zorro é, sem dúvida, um exemplo de produção burguesa.
Obviamente, não no sentido mais amplo que se possa atribuir a tal expressão, caso se considere certa contradição da noção, conforme fez Patrice Pavis, em seu Dicionário de teatro, ao questionar: "Enquanto um outro tipo de sociedade não houver redistribuído valores que nada mais devem ao gosto e à ideologia burgueses, o teatro não permacerá necessariamente vinculado à cultura dita burguesa?" Mas certamente numa acepção mais específica, pois, seguindo ainda palavras do autor sobre o teatro burguês -um dia já brilhantemente caracterizado por Roland Barthes-, trata-se de uma peça "onde tudo é quantificável (o preço do ingresso dando direito a uma pletora de cenários, figurinos, grandes sentimentos, suor, lágrimas e risadas)".
Muito bem vestidos, como se fossem a uma festa e não a uma ocasião de fruição estética, acorrem hoje ao Trianon figuras da sociedade campista menos ávidas por teatro que por frequentar colunas sociais e se manter em dia com o universo das celebridades. Figuras que, antes do surgimento da televisão -e sobretudo das telenovelas- prestigiariam em casas de teatro apenas aquilo que as divertisse e, por catarse -apresentando conflitos do mundo burguês a serem resolvidos ao longo da trama desenrolada no palco-, as reconfortasse quanto sua condição ao final da apresentação.
Inegavelmente, podem haver méritos estéticos em produções de qualquer matiz ideológico. É o que comprova, por exemplo, O triunfo da vontade, filme de 1934 de Leni Riefenstahl, que mais que simplesmente um documentário sobre um congresso do Partido Nacional Socialista Alemão, como queria sua diretora, funcionou como veículo de propaganda nazista, mas é também uma obra-prima do cinema. Neste sentido, embora a frequência cada vez maior de atores de telenovelas em montagens do chamado teatro burguês tenda a comprometer a qualidade de produções do gênero, o maior mérito de A marca do Zorro talvez esteja justamente num dos aspectos mais valorizados em espetáculos marcados pela ideologia ora em questão: os exercícios físicos, por assim dizer, desempenhados pelos atores em cena.
Trama clara e simples, estrelada por atores famosos trajando suntuosos figurinos de época - todos esses elementos, relacionados como típicos do teatro burguês por quem o estudou, podem ser identificados na peça em cartaz no Trianon. Mas o trabalho de corpo dos atores, explorado na execução de dança flamenca e das coreografias de lutas de esgrima, é o que dá maior brilho ao espetáculo, a despeito de toda crítica que possa ser dirigida a trabalhos calcados na apresentação mais convencional de números desse tipo. Considerando esse aspecto, vale a pena conferir a pena conferir A marca do Zorro.
Atualização (17:46): Inserção de marcadores.

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