quinta-feira, 28 de maio de 2009

rascunhos

Nada novo sob o sol
No dia 28 de abril foi comemorado o Dia da empregada doméstica. Como este blog ficou sem passar por quase nenhuma atualização por muito tempo, nada se comentou aqui sobre o assunto. Mas parece inevitável registrar a história de uma herdeira de uma das representantes de tal categoria, contada justamente na semana da data mencionada. Embora não apresente grande novidade –trata-se de um caso recorrente entre aquelas que são chamadas eufemisticamente de secretárias do lar–, o relato é forte e tocante.
Ao perguntar a uma humilde trabalhadora sobre a origem de seu nome, bastante curioso, até então desconhecido para este escriba e, obviamente, impublicável –do contrário a figura em questão correria o risco de ser facilmente identificada–, ele ouviu que se tratava de uma homenagem à avó dela. Até aí, não há nenhuma novidade.
Só que a progenitora da personagem era uma empregada doméstica que morava no Rio de Janeiro, envolveu-se com o patrão –um homem riquíssimo e casado–, engravidou e, para não criar problemas para ele e nem ter que abortar, veio para Campos, onde deu à luz um menino. Ainda que um advogado a orientasse a batizar a criança com o sobrenome do patrão, a empregada teve medo: limitou-se a registrá-la com o primeiro nome do adúltero. Até aí, não há também nenhuma novidade.
Deixando o filho sob a responsabilidade de outra pessoa, regressou ao Rio. De lá nunca voltou. Dela chegaram, no entanto, notícias: foi encontrada carbonizada na cidade maravilhosa. Nem é preciso dizer que o filho da empregada teve a infância e a adolescência marcadas por uma imensa frustração: quase sem contato com a mãe, foi impedido de conhecer o pai. Até aí, não há também nenhuma novidade.
Mais ou menos como aquela que o gerou, quando adulto, ele resolveu exorcizar um de seus fantasmas: como bom protetor de uma tradição, deu à filha o nome da avó. Hoje, ela encarna um mal que atravessou gerações. E, embora talvez já sem sentir o mesmo peso que o pai e a avó, não ultrapassou muito a condição social de seus ascendentes –condição que, provavelmente, transmitirá a seus herdeiros. Mas até aí não há também nenhuma novidade...
P.S. (28/05): Este texto foi escrito no dia 3 de maio. Reforçando o que se disse na penúltima frase dele, na semana passada, a personagem ficou desempregada. A publicação dessas linhas no dia de hoje visava inicialmente a preencher um espaço para o qual, por falta de tempo, o blogueiro não teria nada. Que valha agora para desejar muita força à obstinada colega e amiga.

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