domingo, 13 de dezembro de 2009

impressões

A lenda do príncipe que tinha rosto

Peça da Cia de Teatro Artesanal, A lenda do príncipe que tinha rosto teve uma sessão ontem e tem outra prevista para hoje, às 17 horas, no Teatro Municipal Trianon.
Embora classificado como infanto-juvenil, o espetáculo é imperdível para apreciadores de teatro e arte em geral e para quem se dispuser ao exercício de reflexão a partir da fruição de obras estéticas.
O que se narra na montagem é o caso de um príncipe que nasce num reino onde ninguém tem rosto, motivo pelo qual o menino é confinado numa torre. Mas essa história que parece simples se materializa por meio de recursos elaborados minuciosamente (seria melhor dizer artesanalmente).
Sem diálogos entre os personagens, a peça é toda conduzida por uma narração em off. Preto, branco e cinza (prata nos adereços) são basicamente as únicas cores no cenário e nos figurinos -estes com inspiração gótica-, salvo umas poucas exceções (um guarda-chuva verde, uma borboleta azul, um baú de madeira). Uma máscara branca, espécie de persona, é utilizada para caracterizar o rosto do príncipe (e de outras poucas personagens, cujos nomes talvez não devam ser revelados aqui), quando bebê e criança, bonecos de pano (foto abaixo), um deles magistralmente manipulado por um ator - o mesmo a encarnar o herdeiro do trono na juventude, incorporando mimeticamente os gestos da figura a que dá vida na infância. Certas cenas contam com projeção de imagens em preto e branco (a janela da torre com nuvens, uma festa no castelo, dragões) que às vezes remetem a criações como as do expressionismo alemão cinematográfico, numa tela de pano.

Deve-se ressaltar ainda o excelente trabalho de corpo dos envolvidos no trabalho. Além da já mencionada habilidade do ator como príncipe quando jovem, há uma atriz grávida que ninguém do público diz ter a barriga que ostenta quando está em cena. Cabe dizer que os atores ensairam por três meses usando as máscaras negras que cobrem seus rostos (sem orifícios para os olhos), sem o acompanhamento da narração de fundo (fazendo as marcações apenas com o conhecimento da estória) e usando a luz de serviço do teatro. Duas semanas antes da estréia, quando começaram a passar os ensaios com a iluminação técnica, a tal atriz grávida chegou a pensar que estava cega. Esse experiência dos ensaios deu a todos uma percepção incrivelmente apurada do espaço cênico.
Falta pouco tempo para a sessão de hoje, mas, confiem os poucos leitores deste blog: a peça é imperdível. Para quem reclama tanto de não haver programação cultural em Campos, será um absurdo imaginar não assistir a uma peça com entrada grátis.
Atualização (16:31): Revisão do texto. O importante era divulgar a montagem. Mesmo que para os poucos que passassem por aqui.
Atualização (10/06/2010 - 13;56): inserção de Marcadores.

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