sábado, 1 de janeiro de 2011

Retorno

Como em todas as vezes em que se afastou de sua ocupação de desocupado, este Soprador de Vidro programou voltar numa data especial - mas não exatamente neste primeiro dia de 2011.
Desde 22 de junho, quando foram publicadas aqui as últimas postagens antes desta, esteve entre o sofrimento e o gozo. Um por não escrever - e também não curtir, como gostaria, tudo aquilo que aprecia: cinema, literatura, música... Outro por apostar que todo seu sacrifício teria, um dia, alguma recompensa: a de fruir, um pouco mais como pretendia, o que tanto lhe apetece. Esse dia não só ainda não chegou como talvez nunca chegará para quem, como o autor destas linhas, é perfeccionista e tem obsessão por métodos.
Mas, sem o blá-blá-blá das justificativas expostas aqui em todas (ou quase todas) as outras ocasiões em que redator deste blog retomou (ou tentou retomar) suas atividades como responsável pelo veículo, quiçá baste dizer que lhe faltava espaço vital para que ele se sentisse melhor. Isto mesmo: a despeito da conotação pejorativa de tal expressão (em alemão -lebensraum- um dia tão cara aos nazistas -e que, neste caso, fique o não-dito pelo dito), era bem de espaço físico mesmo que este escriba parecia precisar. Em 2011 ele ocupará, finalmente, um cômodo novo, de quatro metros por oito, nos fundos de sua casa e dará adeus a um quartinho no qual seus pertences de intelectual disputavam lugar com cestos de roupas sujas e limpas, uma tábua de passar, bolsas de viagem etc. etc.
Fazer de Soprador de Vidro um espaço virtual análogo a tal cômodo - um espaço de reflexão, portanto - sempre foi uma pretensão almejada pelo humilde responsável pelo blog. Trata-se, certamente, de um sonho similar ao que tem e merece realizar todo proletário (ou pequeno-burguês) inconformado com um mundo onde telenovelas e programas de auditório estão entre os únicos oásis encontráveis após o percurso diário dos desertos intelectuais em que vem se transformando locais de trabalho como as escolas e universidades.
Como as linhas deste texto de retorno (mais um) do blogueiro terminam quando ainda espocam os fogos de artifício comemorando o início de 2011, ele deseja, inspirado pelo tema global de fim de ano de Marcos e Paulo Sérgio Valle e pela letra de uma canção de Lulu Santos, que neste novo ano eu, você e todos nós tornemos verdade ao menos os pequenos sonhos, pois, apesar dos pesadelos diários, que temos no sono ou na vigília, ainda viveremos dias de leite e mel aqui na terra e não depois no céu.

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